Síndrome do Banho e Tosa: revisão dos riscos dermatológicos associados

Por Erick da Silva Vilella
Médico Veterinário Dermatólogo — CRMV/SP 54187

A prática de banho e tosa em cães é amplamente difundida como um cuidado essencial para a higiene e estética dos animais de companhia. Entretanto, apesar de ser vista como uma atividade rotineira e aparentemente simples, envolve riscos significativos para a saúde física e emocional dos cães. A chamada Síndrome do Banho e Tosa (SBT) é um termo utilizado para descrever um conjunto de reações dermatológicas e comportamentais que podem surgir após procedimentos inadequados, destacando a importância de abordagens mais seguras e individualizadas.

Estudos recentes apontam que técnicas inadequadas, uso de produtos impróprios e ambientes mal higienizados podem resultar em dermatites de contato, infecções bacterianas, estresse crônico e até traumas comportamentais. Produtos como xampus, condicionadores e perfumes frequentemente contêm substâncias irritantes, como lauril sulfato de sódio e fragrâncias sintéticas, que podem desencadear reações adversas em animais com pele sensível ou predisposição alérgica.

Além disso, o ambiente onde ocorre o banho e tosa exerce papel determinante na saúde dermatológica. Falhas em biossegurança, higienização insuficiente de equipamentos e presença de umidade favorecem a proliferação de microrganismos oportunistas, como Staphylococcus pseudintermedius, Malassezia spp. e fungos dermatofíticos. Estudos também mostram que ambientes de estética animal podem funcionar como reservatórios de bactérias multirresistentes, como MRSA e MRSP, representando riscos não apenas para os animais, mas também para profissionais e tutores.

Outro ponto crítico é o impacto comportamental. Animais submetidos a métodos de contenção inadequados, ruídos intensos ou manejo brusco podem desenvolver fobias, ansiedade e comportamento agressivo, comprometendo não só o momento do banho e tosa, mas também sua aceitação em outros cuidados de saúde, como consultas e tratamentos veterinários. A adoção de técnicas de manejo gentil (low-stress handling), treinamento prévio e adaptação gradual ao ambiente são estratégias fundamentais para minimizar esses impactos.

A escolha de produtos dermatologicamente seguros, protocolos individualizados de atendimento e rigorosas medidas de higiene e biossegurança são fundamentais para reduzir os riscos. Profissionais devem ser capacitados continuamente, com foco em anatomia, comportamento animal e prevenção de doenças dermatológicas. Da mesma forma, os tutores têm papel importante ao escolher estabelecimentos comprometidos com o bem-estar animal e acompanhar a saúde cutânea de seus pets.

Conclui-se que o banho e tosa devem ser vistos como procedimentos que vão além da estética, demandando responsabilidade técnica e ética. O aprimoramento das práticas, a adoção de protocolos baseados em evidências e a integração entre dermatologia veterinária, microbiologia e etologia são essenciais para garantir um cuidado seguro, humanizado e centrado nas necessidades reais dos cães.